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6º Desafio -  Carta para um estranho. 

Voltei aos desafios então vamos lá.

Olá Estranho, tu que até poderás ver o meu blog, não sei que te dizer até porque sou muito reservada quando falo com estranhos, mas esta carta vai para o meu blog, um sitio onde não me preocupa muito quem o vê (pessoas que gostam ou não de mim), onde de vez em quando deixo pequenos desabafos, hoje não sei bem o que falar por isso decido escrever-te esta carta.
Estranho eu não sei se és boa pessoa ou nem por isso, não sei nada da tua vida e acredito que pouco ou nada saibas da minha. Saibas ou não o meu nome é Sara mudei-me a pouco para uma aldeia que não queria, a minha vida mudou um pouco por causa disso, deixei a vila onde tinha casa e a cidade onde morei durante 3 anos, deixei amigos na vila e na cidade, não os deixei completamente porque eles sabem que estou cá para eles na mesma, é mais difícil ir a vila, mas na cidade tenho alguém que não quero perder por nada, e agora vai ser difícil vê-lo. É verdade. Tenho saudades, de ser mais livre do que sou agora, acabei a escola e tive de vir para aqui, nem sempre temos tudo o queremos pois é, mas isso não me impede de saber que vou poder visitar quem quer que seja quando eu quiser, porque agora preciso de dinheiro, como preciso de dinheiro preciso de trabalho e é o que ando a fazer agora, procurar trabalho. Não na minha área, mas se for melhor, mas algo que dê para arranjar dinheiro para poder ser mais livre, eu sei que vai resultar, para o ano vou tentar entrar na universidade e voltar para a cidade de onde saí, voltar a estar com ele nem que seja 2 horas por dia, mas estar com ele um pouco todos os dias, porque até podes não acreditar mas aquele sorriso, aquele sorriso lindo faz-me ficar diferente todos os dias que o vejo, porque tu podes não saber, mas eu sei o quão é bom estar com ele, o quão é bom dar-lhe a mão e falar com ele, o quão é bom sentir os seus lábios, o quão é bom poder confiar em alguém como confio nele, eu tenho a certeza que já o sentiste com alguém, porque é um sentimento incrível até para as pessoas mais frias, é algo que gostaria de sentir todos os dias, sentir aquela vontade de sorrir só por estar com alguém, aquela alegria que nem tu podes explicar, aquela sensação de tudo se apagar á volta quando estou com ele, porque é bom e para mim das melhores sensações do mundo. Porque mesmo que tenha problemas, ele é a primeira opção e se não o tiver por perto as coisas desfazem-se mas quando ele está, é diferente é tudo diferente. Não é por ser ele, é por existir amor, e é por ele que sinto. Não há explicação Estranho, eu simplesmente amo-o porque sim, não por algum motivo, amo-o simplesmente não preciso explicar mais nada.
Mas eu vou continuar a contar-te um pouco da minha vida, já meti o CV em alguns sítios espero que me chamem, o mais rápido possível, vim para esta aldeia porque o namorado da minha mãe é de cá e a minha mãe arranjou cá trabalho, o meu pai já faleceu, faleceu com cancro no pulmão, foram tempos difíceis não o posso negar, parece que as pessoas quando chegam a uma fase de doença perdem a noção de tudo, foi complicado, mas ele agora está bem, sei que muita gente pensa que custa falar no assunto, falo por experiência própria, não custa assim tanto, eu antes também pensava que sim, mas sei que ele está bem agora  porque é que iria custar, ele sofria bem mais quando estava cá, não é que eu preferisse que fosse assim porque não, não preferia que fosse assim, preferia que estivesse bem, que tivesse falecido de velhice e não doença, porque custa sempre relembrar alguns tempos com ele assim. Eu tenho 19 anos e chumbei uma vez no 9º ano e estou a mudar de conversa para que percebas um pouco o meu lado quando ele adoeceu, chumbei de propósito porque queria ir tirar artes e naquela vila não havia nada disso, e naquela altura não me deixavam ir para a cidade onde acabei por tirar o 12º em Artes Gráficas, por isso chumbei para dar tempo para me deixarem ir, e pronto depois de mais um ano no 9º deixaram-me ir. Fiquei arrependida é verdade, fui para um sitio onde não conhecia ninguém e eu era bastante reservada, não falava com ninguém se não falassem comigo, era basicamente casa, escola, escola, casa. Pensei em desistir, mas perder um ano por causa disso, não quis. Mas arrependi-me imenso porque só nos fins-de-semana é que ía a casa (na vila) onde estavam os meus pais e nem eram todos os fins-de-semana. Mas o meu pai estava doente e eu sabia que mais cedo ou mais tarde ele ía embora, e isso custou-me porque acho que não aproveitei bem o tempo com ele, mas eu sei que ele está feliz por mim, porque fiz o que queria, tirei o que queria. No 10º ano, no 1º ano do curso onde estava, no 1º dia das férias de natal ele faleceu, lembro-me de levantar-me ainda de pijama descer as escadas e estava o INEM á porta de o ver com uma mascara de oxigénio levado numa maca para dentro do INEM, e foi a ultima vez que o vi ainda com vida, já era bem de noite quando a minha mãe ligou para a minha tia e perguntou se eu estava lá, foi a minha tia a dar-me a noticia, e eu não acreditei, não consegui acreditar, durou bastante tempo para ter consciência que aquilo estava a acontecer, que era mesmo verdade, voltei para a escola e lembro-me no primeiro dia o meu melhor amigo me dizer: então como foram as férias?  e eu responder: o meu pai morreu. Apenas saíu, não tinha dito a ninguém, não tinha dito porque até para mim não era verdade. Ele calou-se e acredito que tenha ficado constrangido com aquilo, estava um pouco "fria", parecia que tinha caído tudo naquele instante. Chegavam os fins-de-semana e lá ía eu para a vila e pensava sempre, vou chegar a casa e está lá o meu pai, e demorou algum tempo a perceber que não estava, mesmo quando acordava, já tinha aquela rotina, ele estava lá no meu pensamento, mas não estava em corpo. Custa algum tempo. Depois foi melhorando, e comecei a meter na cabeça que ele não estava em corpo lá mas ía estar sempre comigo. 
E o tempo foi passando e agora vim para aqui, não queria porque não conhecia ninguém, e vir para um sitio onde não se conhece nada não é agradável, mas agora já conheço algumas pessoas e não é assim tão mau.
E aqui Estranho nesta carta, ficas a saber um pouco de mim. Se quiseres responder manda uma carta, talvez fique eu agora a saber um pouco de ti.


Um pequeno desabafo. 

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